Uiá!!

"Nascidos, nós choramos por chegar a esse palco de tolos". Shakespeare, Rei Lear.

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Local: Londrina, Paraná, Brazil

6.1.09

Síntese em casa.

Ano novo, vida nova! Ou será tudo "mais do mesmo"? A questão dos marcos - aniversário, ano novo, anos 70, década de 20, séc. XVIII, etc. - é essencial para o ser humano. Denota a passagem do tempo e, além disso, traz a possibilidade de um "recomeço" a partir do antigo; ou, quicá, dependendo da situação, um começo inteiramente novo, sem bases nas quais se apoiar - incrível pensar que há a possibilidade de se criarem até mesmo os pilares. Parece que elas faziam mais sentido em épocas outras nas quais era importantíssimo comemorar a passagem do tempo e a possibilidade de se manter vivo por mais um ano ou mais um período que fosse.
Discutindo recentemente, embora no ano passado (piada ruim, infame e desleixada), com um grande, embora distante, amigo meu acabamos entrando no campo da arte: poesia, literatura e pintura, mais especificamente. E, conversando sobre alguns poetas brasileiros e estrangeiros disse-se em determinado ponto que é incrível o poder de síntese e concisão, sem perder em nada de conteúdo, que esses ourives possuem.
Um soneto - bem feito, obviamente -, ou um haikai; ou qualquer outra forma de expressão escrita/falada (uma música, porquê não?, de um Chico Buarque, de um Toquinho, de um Vínicius, Cartola, João Gilberto, e tantos outros grandes) possuem ao mesmo tempo uma matéria profunda e uma forma simples e singela de se manifestarem e existirem.
Ainda hei de escrever um poema que me faça ter orgulho de mim mesmo; ainda hei de criar algo que em sua intrincada temática desabroche em versos simples, limpes e tenros. Penso que minha dificuldade maior em fazer esse tipo de prazer seja a necessidade de constantemente me explicar - e, sabe, pensando agora, pode ser que essa vontade constante seja minha maior limitadora, posto que a arte deixa espaços para a interpretação daquelas a quem toca; enquanto que a constante explicação não, ela admite tão somente a análise daquele que lhe deu gênese -, contudo, tenho mudado esse tipo de comportamento e deixado os outros pensarem ou entenderem o que quiserem. 
Cada vez me agrada mais a idéia de escrever, mesmo que para mim mesmo, pois as idéias claras ficam (clarificam?) e é mais fácil se aperceber de coisas que de outra forma não seria possível. Por exemplo: escrevendo agora sobre a minha impossibilidade de não me explicar, acabei vislumbrando a possibilidade de que a constante explanação própria é uma maneira de me encaixar em um grupo e não permitir que idéias errôneas criem óbices a isso; o que, por sua vez, tem raízes mais antigas, talvez em algum tipo de escárnio sofrido quando ainda imberbe.
Tergiversando. Em verdade, a algum tempo eu venho dizendo que sinto inveja - do tipo saudável - dos grandes literatos e poetas; quero uma parte desse mundo de sonhos e fantasias; quero escrever livros e poesia; e, talvez agora, quando eu começo a me entender melhor do que nunca, seja a hora para fazer isso. 
O bacana é pensar que a arte é livre; deve ter a forma que melhor se encaixa no molde do seu ser e do "ser-idéia-pensamento" que você quer externar; nada de tercetos, redondilhas e métrica (Manuel Bandeira expressa bem essa idéia em "Poética", eis aqui um link para quem quiser lê-la: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/poetica.htm); nada de colocar o miojo na panela, aguardar três minutos e pronto, eis um poema. 
A forma é instrumento de propagação da idéia, não a própria manifestação em si; não se devem ser confundidas e nem misturadas; justamente por isso ela é livre - o que não significa que tudo seja bom; há o bom e o ruim que assim o são pela consciência, cabeça e olhos de quem vê.
Pensar na liberdade de sua manifestação importa dizer que mesmo algo não posto em letras ou em tela ou em música pode ser uma forma de arte. Qualquer coisa, dependendo de como a situação se crie é passível de assim ser classificada; dependerá de quão onírico, sublime e bacana seja o momento.  Uma presença feminina ajuda; a "eterna dançarina do efêmero" portadora de uma "incalculável perfeição", tem cadeira cativa e serve como catalisador desses momentos, com cheiros, toques, pele e palavras ("Receita de Mulher; leiam: http://cseabra.utopia.com.br/poesia/poesias/0712.html).
E nesse sempre-fazer que é a vida, o que importa é abrir a mente e perceber as sutilezas que nos rodeiam, porque nessa infinita ciranda, até um deitar na praia vendo as estrelas pode ser um quadro que fica exposto na parede da memória. E tenho dito.

Um mais ver bem abertado, beijosmeliga pra vocês; ó arautos do meu júbilo.