Uiá!!

"Nascidos, nós choramos por chegar a esse palco de tolos". Shakespeare, Rei Lear.

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Local: Londrina, Paraná, Brazil

30.12.06

À época das bondades.

O período de férias realmente nos torna mais preguiçosos; e penso que possivelmente seja esse o intuito deste espaço de tempo.
As férias servem para relaxarmos, ficarmos deitados sob a luz do sol, permanecermos acordados agasalhados pela luz da lua, conversarmos por horas e horas sobre temas interresantíssimos e outros nem tanto.
Essa é a minha justificativa próloga para o porquê de não postar aqui até retomar minhas atividades normais em meados de janeiro.
E também aproveito que não direi nada acerca da materialização do natal e como isso é prejudicial e desviador, mesmo porquê há inúmeras teorias, muto verossímeis, que explicam que a comemoração do Natal, desde sua origem há 2000-3000 anos a.C., pregava justamente a valorização material do ser e não a espiritual.

Somente para refletir.

Li hoje um pensamento quiçá interessante que dizia que o final de ano, em especial sua virada, é muito prejudicial para o desenvolver da sociedade e do indivíduo.
Durante esse hiato nos conformamos e nos condicionámos a relembrar somente o que de bom sucedeu-se durante o ano, a causa aparente disso talvez seja para entrarmos nos meses vindouros com ares puros e idílicos de melhora e evolução, para quicá atingirmos um desenvolvimento pessoal e social e, logicamente, melhorarmos nossa vida e nossa "convida".
Só que esse hábito e prática de esquecermos o que de ruim aconteceu no ano e criarmos nossa própria Caixa de Pandora é maléfica no sentido do esquecimento.
A causa do esquecimento pode parecer nobilissíma, entretanto sua conseqüência, nem tanto.
O esquecimento voluntário de certos fatos e acontecimentos pode facilitar a criação da idéia de que apesar de algumas poucas coisas ruins passadas o ano foi bom e o seguinte será ainda melhor.
Proponho que não deixemos de lado o enaltecimento de projeções e prognósticos aureos e augustos, mas que assim como se lhe fazemos, lembremos com um pouco de amargura que o ano não foi tão bom assim e que ainda há muito o que melhorar, quicá modificar abruptamente, para atingirmos o empíreo, assim como Dante, guiado por Virgilio e Beatriz, lembrando-lhe das maldades que ele mesmo e seus conhecidos cometeram, sempre buscando alcançar o círculo maior do céu.
O pensamento da Divina Comédia de Dante Alighieri, pode ser interpretado analogicamente. Busquemos sim alcançar o máximo que nossas vidas nos permitem, mas não sejamos ingênuos a ponto de deixar que o simples esperar de um ano próximo maravilhoso seja o suficiente para sufragar e mitigar os acontecimentos nefastos, que deveriam nos orientar em busca do melhor, que hão de ser memorados na virada do ano.
Conciliemos: festejemos o bom futuro vindouro lembrando com carinho e com olhar de pupilo para o mal passado vivido, e deixemos que este sirva de guia e exemplo para aquele.

Até meados de janeiro, oníricos e mal passados leitores!
Boas festas, feliz ano novo e um feliz natal em atraso.

13.12.06

Sermão austero

Primeiro dia de aula no colégio. Crianças chorando em demasia. É díficil largar da mãe e passar um dia inteiro sob os cuidados e olhares atentos de uma estranha pessoa que, por uma fração de tempo, nos manterá sob seu jugo.
Primeiros contatos com outros seres pensantes que possuem polegares opositores como os seus e que, assim como você, ainda utilizam as fraldas como latrina. São trocados os primeiros olhares, os primeiros sons e as primeiras "conversas".
Segue-se que a partir desse contato raiarão as primeiras amizades e assim você, tenramente, saberá, mesmo que não conseguindo explicar, o significado desse sentimento e, porquê não, do amor.
Provavelmente você passará alguns desses anos iniciais convivendo com as mesmas pessoas, fortalecendo, portanto, os laços que o unem aos seus colegas, estreitando-os, conseqüentemente e os fazendo afigurarem-se eternos.
Esino fundamentel e médio; ocorre a mesmissíma situação. Alguns poucos privilegiados mantêm as mesmas amizades por todo o período escolar, convivendo e confidenciando com os mesmo colegas que conheceram quando ainda, todos, "obravam" nas calças. Outros, por motivos que as vezes nem eles próprios sabem, conhecem novas pessoas e, como brinquedo velho, colocam seus velhos amigos em estantes ou mesmo em caixas, admirando-os ou vexando-os e os tratando apenas como meros conhecidos, dispensado tratamento igual ao que dispensariam a qualquer, cortejando-os com meros: "oi", "tudo bem?" e um breve, frio e doloroso "tchau, a gente se vê".
Na faculade, talvez as coisas se diferenciem um pouco, pois você exercerá a mesma profissão que alguns de seus amigos de cátedra e, portanto, é bem verossímil a afirmação de que atinar-se-á com eles, converserá horas sobre os anos dourados e sobre as lembranças que, parafraseando Belchior, "na parede da memória(...)é o quadro que dói mais".
E por fim, olhando os nossos espelhos diários, que nos indicam o caminho a ser seguido ou não, em alguns tristes casos, só consigo chegar a conclusão de que as amizades mantidas e criadas, quando infantes, pelos nossos pais, hoje não passam de ternas, soberbas e idílicas memorias; e nada mais. São, tão somente, nostalgias e fotos capturadas pelo obturador dos olhos, mantidas eternamente na parede de suas lembranças.
A conclusão, quicá lúgubre, que se chega é a de que, salvo raríssimas exceções, o que é eterno não são as amizades e os laços construídos. A eternidade da amizade é tão somente as lembranças que esta deixa guardadas(não o contato, tato e abraço); e nada mais.
Não pensem que só porque você foi um grande amigo de uma pessoa, depois de não vê-la e não manter contato com a mesma por 5 anos, as coisas continuarão exatamente como eram antes; não pensem que vocês serão os velhos e melhores amigos de antigamente.
O principal, nesse particular, é aproveitar a companhia dos seus caros pelo tempo que se lhes dispõe. Ora, se tudo que tiraremos de uma amizade bem vivida serão as lembranças dela, nada mais lógico e natural que criar, na vida real, situações e fatos que nos façam olhar os anos dourados com o melhor saudosismo possível, com vontade de revivê-los e revê-los e recordando o quão boa foi a companhia e o quão quimérico o momento.
As amizades podem perdurar por incontáveis anos e quicá atingir a tão ingênua eternidade proclamada pela infatilidade do raciocínio, só que essa não é a regra. No final, todos teremos amigos, não tenho dúvida, mas esses não serão os mesmos de 5, 10, 15 anos atrás; serão outros novos amigos constituídos a partir de novas relações que provavelmente manteremos com nossos cônjuges, que no apocalipse de nossas vidas, serão os únicos, se dermos sorte, que acompanhar-nos-ão pelo maior tempo possível, até o derradeiro e último episódio.
Portanto, caro legente puro, não se iluda, provavelmente nossa amizade enfraquer-se-á com o passar dos anos, como tenho certeza que, em alguns casos, já vem se desalentando.
Entretanto, é com muito desvelo e afeto que posso lhes dizer que na minha memória há inúmeros quadros dignos de Leonardo Da Vinci; alguns ainda sendo pintados, outros já perfeitas obras primas; e é, também, com a alma embebida em ternura que lhes digo que o simples obturar dos olhos permite admirar toda a construção e trabalho do artista em sua pintura, abrí-los e, enfim, soturnamente enterncer-se pelos anos passados, vividos, sofridos e guardados na lembrança que forjaram e levaram cada um até aqui, ali ou acolá; e nada mais.

Até mais ver caros, ternos, tenros, idílicos e guardados ledores.

12.12.06

Tempo de poesia, parte 1

Primeiro: estou pensando em um texto bacana para postar aqui, meio melancólico, mas bacana.
Segundo: gosto de poesia, acho aprazível lê-la e ouví-la.
Terceiro: não quero deixar esse blog às traças.

Todas as cartas de amor são rídiculas.

    Todas as cartas de amor são
    Ridículas.
    Não seriam cartas de amor se não fossem
    Ridículas.

    Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
    Como as outras,
    Ridículas.

    As cartas de amor, se há amor,
    Têm de ser
    Ridículas.

    Mas, afinal,
    Só as criaturas que nunca escreveram
    Cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    Quem me dera no tempo em que escrevia
    Sem dar por isso
    Cartas de amor
    Ridículas.

    A verdade é que hoje
    As minhas memórias
    Dessas cartas de amor
    É que são
    Ridículas.

    (Todas as palavras esdrúxulas,
    Como os sentimentos esdrúxulos,
    São naturalmente
    Ridículas.)

    Álvaro de Campos, 21-10-1935
Até mais ver, ó guru! Hahahahah