Uiá!!

"Nascidos, nós choramos por chegar a esse palco de tolos". Shakespeare, Rei Lear.

Nome:
Local: Londrina, Paraná, Brazil

12.4.07

Mulheres, perdão

Primeiramente preciso me curvar à presença sempre constante de um grande amigo meu. Cresceu comigo, provavelmente me viu fazer coisas que nem eu mesmo faria (Hã? Como assim Alexandre?) e hodiernamente é figura onipresente nos comentários das elucubrações deste incauto imbecil que lhes fala.

Mulheres, perdão; d'alma brotam minhas mais sinceras e densas desculpas. Peço-lhes perdão pela postura que nós homens tomamos frente à sua ídilica, soberba, aprazível, cativante ("tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", Antoine de Saint-Exupéry), apaixonante e cheirosa figura; perdão pela perfídia, desonestidade e achincalhe com o qual normalmente as tratamos em relacionamentos amorosos; perdão pelas cantadas abjetas e pestilentas que muitos de nós utilizam com o mister de conquistá-las; perdão pela falta de higiene, pelos pêlos em excesso, pela contumácia e incúria que normalmente exercemos; perdão por sermos, muitas vezes, a exata oposição do desejado.
Perdão por nossa ingenuidade; perdão por nossas brincadeiras infantis; perdão pelos nossos flatos e arrotos; perdão pela constante infidelidade; perdão pela aparência por vezes grotesca e mal cuidada; perdão pelo medo de amar; perdão pelo medo de expressar esse amor; perdão pela falta de tato (tanto psíquico quanto físico); perdão pelo receio de mostrar afeto em público; perdão por não compreendermos seus medos e neuras; perdão por não entendermos a dificuldade e complexidade do ser mulher.
Enfim e em soma, perdão.

Mas, será que eu deveria pedir perdão? Será que é justo pedir perdão por obrar na qualidade de homem? Será que, sendo seres iguais como somos, eu devo pedir perdão pelos nossos comportamentos?

A moralidade dos fracos ou dos escravos predomina sobre a vontade dos fortes; não exatemente com essas palavras, Nietzsche, em sua obra A Genealogia da Moral, uma polêmica, discorreu sobre a inversão de valores que ocorrera em determinado período da humanidade, salvo engano na época que o cristianismo inicou a tocar o coração e mente das pessoas. Ora, antes de mais nada, eu não defendo que as mulheres sejam seres fracos, muito pelo contrário, tenho certeza que são tão, se não, mais fortes que os homens; destarte, estamos todos em pé de igualdade no que toca o viver.
Defende o referido autor que em um momento histórico a casta de escravos, ou pessoas fracas á época, organizou-se e começou a inverter os valores postos como sendo justos e desejáveis, criando assim uma nova moralidade, onde o comportamento dos fortes de outrora passava a ser entendível como o errado: o mal. Discorre que a moral nobre, que fora suprimida pelo descalabro da moral escrava é sempre uma afirmação, um sim a si mesmo(a), uma ação; enquanto que a moral dos fracos é sempre uma negação e responde sempre a um estímulo exterior, não sendo portanto ação, e sim reação.

Ora, sendo que nós homens somos equiparados às mulheres, devemos pedir desculpas por nos comportarmos naturalmente? Devemos nos submeter à moralidade escrava que dita os comportamentos que necessitamos ter para sermos aceitos no coração do gênero oposto? Meus perdões apenas versados são necessários e, porquê não, válidos? Sim, possivelmente sim e sim também.

Malgrado a beleza e profundidade da teoria nietzscheziana acima posta, algo mais íntimo e profundo me obriga a pedir perdão. Quem sabe seja a moralidade de escravo há muito ensinada e, portanto, enraizada em mim; quem sabe por, inconscientemente achar que as mulheres precisam ser protegidas... não, com certeza não.
A verdade é que brota de mim uma vontade de fazer estas indulgências, provavelmente por respeito às damas, tão belas, tenras e meigas, mas a realidade é que não sei ao certo qual a razão que me atribui esse munus.
Dessa vez, ao revés do que acontece na maioria dos casos, o homem - eu -, me fiz incompreensível.
Desde já peço vênia aos meus colegas do gênero masculino por ter asseverado, nestes versos deletérios, argumentos assaz oprobriosos.

Até mais ver perdoados e perdoantes leitores!

5.4.07

Uma viagem pouca

Embora o título pareça equivocado aos incautos olhos dos formalistas; dos arautos da correta sintaxe; leiam o texto e, após, tirem suas conclusões (tenham sempre em mente que a escrita poético/literária permite ao autor ser mais livre na concepção dos versos prolatados).

Começo declamando, uma vez mais, minhas mais (in)sinceras desculpas aos legentes que detêm o globo ocular e perdem minutos preciosos da nossa curta jornada terrena lendo minhas divagações.
Tergiversando. No começo de fevereiro pude, graças a ajuda de meus pais, realizar uma viagem em direção ao velho continente para aprimorar uma das línguas que entendo ser das mais belas existentes: o italiano. Fiz um curso de italiano na antiga cidade à qual todos os caminhos levavam em épocas passadas. Entretanto, o pacote da viagem incluia uma estada curta em uma das cidades mais visitadas e lindas do mundo: Paris.
Permaneci na cidade luz por três efêmeros dias caminhando e conhecendo tudo que ela me pôde proporcionar. Visitei lugares lindíssimos que, malgrado possam ser descritos através da fala, o serão sucintamente por mim, posto que pretendo fazer deste um pequeno conto sobre uma impressão geral que colhi da viagem.
Nomeio, entretanto, alguns lugares: visitei a Igreja do Sagrado Coração, Notre Dame, Igreja de Saint Chapelle, Torre Eiffel, Museu D'Orsay, Museu do Louvre, Ponte Alexandre III, Hotel dos Inválidos, Centro de Arte Moderna George Pompidou, Pantheon, Jardins de Luxembugo, Arco do Triunfo, Praça da Bastilha, Praça da Concórdia, Champ de Mars, Champs Elysée e Moulin Rouge.
Sempre andávamos de metro e em seguida a pé, utilizando nossos membros inferiores com frequência adquirimos força comparável à de Hércules ou Aquiles ou mesmo à do grande "Cavaleiro da Triste Figura". Quiçá esta última alusão seja a que melhor representa nosso estado (meta)físico de todos os dias.
Perpassados esses ídilicos dias em Paris, nos encaminhamos à Roma onde restaríamos por duas semanas.
Lá chegando pudemos observar as ruínas antigas que circundam ainda hoje a cidade; os muros; o Coliseu e a real sensação de adentrarmos em um Museu a céu aberto (me perdoem o chavão, mas é a mais pura realidade).
Em Roma ficamos em uma casa de família regida pela batuta de uma dona de casa que em muito se assemelhava às mães que aqui temos e deixamos; liberal, conversadora e divertida.
Lá somente andávamos, pegávamos um ou dois metros e de resto utilizávamos nossas queridas pernas para nos locomovermos de um local ao outro.
Conhecemos muitas coisas: Colosseo, Foro Romano, Campidoglio, Circo Massimo, Bocca della Verità, Embaixada de Malta (onde há uma fechadura da qual se vê uma campânula de herbáceos - folhas e flores -, e ao fundo se observa a cúpula da Basílica di San Pietro), Giardine delle Arancie, Phanteon, Piazza di Spagna, Piazza dei Popoli, Monumento á Vittorio Emmanuelle III, Basílica di San Pietro e a Piazza di San Pietro, Chiesa di Santa Maria Maggiore, Capela Sistina, Fontana di Trevi, Piazza Navona, vi a Pietà di Michelangelo, conheci o Museu do Vaticano, Castelo de Santo Angelo e o Stadio Olimpico, entre outros lugares visitados, como várias Igrejas menores.
Viajamos também para Veneza, Pisa e Firenze. Em Veneza pudemos comprovar o quão temática é a cidade (citando meu amigo Diego que trouxe à baila esse comentário), posto que lá não se vêem carros, não há trânsito e todas as lojas vendiam somente objetos referentes ao carnaval que estava acontecendo.
O diferente foi não podermos ver como funcionava a vida normal da cidade, pois toda ela estava girando em torno da folia que lá acontecia.
Em Veneza conhecemos: Ponte Rialto, Ponte dos Suspiros, inúmeras igrejas, a Piazza di San Marco, a Chiesa di San Marco, vimos as tão famosas gôndolas, um monte de gente fantasiada e passamos muito frio.
Depois nos dirigimos à Pisa onde só vimos a torre inclinada, quase caindo e, ato contínuo, fomos a Firenze.
Em Firenze vimos: Ponte Vecchio, Palazzo dei Vecchi, Giardini dei Boboli, Piazza Duomo, Campanile (onde subimos 414 degraus), Museo dell'academia (onde jaz o famoso Davi de Michelangelo, uma escultura simplesmente embasbacante) e mais uma porção de igrejas e coisas parecidas.

Por mais breve que se tenha tentado ser, se vê, facilmente, que relatar uma viagem dessas é difícil. São muitas coisas para contar, muitos fatos para relatar e muitas situações estranhas e divertidas para descrever. Por ora, tentei ser o mais objetivo possível, buscando somente construir sustentáculo para histórias vindouras.
Entretanto, como não poderia deixar de ser, é essencial que eu faça algum comentário desde já e, destarte, me acho no dever de lhes contar sobre o tráfego.

Imaginem a seguinte situação: ruas duplicadas onde sempre passam dois carros, inúmeros apartamentos com ou pouca ou nenhuma vaga na garagem e vários lugares para se parar o carro na rua.
Até aí nada de mais, não há muita violência lá, muito menos assaltos à mão armada, só se deve proteger seus pertences contra os famosos trombadinhas ou espertalhões de plantão que ao seu menor deslize os usurparão.
Agora que vem a situação bacana, divertida e pasmosa. Os cidadãos romanos, mais especificamente os motoristas, não contentes com as milhões de vagas que se amontoam aos lados das pistas, param seus automóveis na rua mesmo. Ou seja, param na pista, descem do carro, ligam o alarme e vão fazer suas coisas por horas e horas.
Todos fazem isso, todos, e não há muita reclamação pela parte dos outros motoristas.
Outrossim, devo dizer-lhes que achar um carro lá sem alguma espécie de arranhão ou batida é quase raro.
E isso me faz lembrar de outra coisa: as motos lá são estacionadas todas em filas, uma do ladinho da outra, muito próximas; os carros param também muito próximos das motos. Fiquei imaginando como seria hilariante se um desses carros encostasse em uma moto... me veio à testa, de supetão, a imagem de um dominó, daqueles que nós vemos em filmes ou desenhos empilhados em pé um na frente do outro, bonitinhos, paradinhos; até que alguém toca, sem (por) querer em um deles e se inicia a reação em cadeia.
Mais ou menos por aí.

Por fim, darei sucintas explicações sobre as cidades que conhecemos.
Paris: belíssima, a imagem de Europa que se tem na (in)consciência é representada por esta cidade. Ruas limpas, pessoas bonitas, educadas cultas (aparentemente). Sem contar o ar onírico que a agasalha.
Roma: considero-a minha preferida. Não é tão bonita quando Paris, nem tão bem organizada, mas essas coisas a transformam em uma cidade peculiar por si só. É embasbacante caminhar pelas ruas estreitas e curvilíneas que a constituem e em cada lugar se deparar com monumentos erguidos por um povo antiguíssimo. Sem contar que a imaginação voa solta olhando tudo que lá jaz; nossa mente tenta recriar os acontecimentos que se sucediam. Roma é surpresa atrás de surpresa atrás de lugares belíssimos para se ver.
Veneza: onírica e romântica ao extremo, muito miscigenada, uma vez que era rota de comércio entre Oriente e Ocidente. Se eu pudesse levar minha futura esposa em lua de mel, Veneza seria um dos lugares cogitados. Ao revés do que se diz, não é fedida. É fascinante observar e capturar com o obturar dos olhos o mar circundando a cidade e forjando essa imagem que se lhe dá.
Pisa: pequena, aparentemente aconchegante, com a Torre di Pisa, aquela inclinada, como ponto principal. Entretanto, a torre é bastante inclinada, fiquei pensando por alguns segundos, nos quais me senti um completo imbecil, que ela poderia cair.
Firenze: outra cidade muito bonita. Completamente dominada pelos Médicis, banqueiros riquíssimo de séculos passados que já elegeram, devido à sua influência outrora, dois membros de sua família para serem Papas. Há muito coisa bonita em Firenze, entretanto é uma cidade mais urbano/moderno. A região próxima à Ponte Vecchio e depois que se a cruza é a parta mais antiga.
Em todas essas cidades é muito interessante se notar como se imiscuiram na vida moderna os monumentos de antigamente e como eles lá permanecem, perenes, sendo observados e mantidos incólumes, mesmo com toda a tecnologia e novidade que os cerca.
Esse deve ser o motivo principal de tanto fascínio pelo velho continente; a possibilidade de, de um mundo moderno, se observar as construções do passado e ao mesmo tempo não se desvencilhar daquele.
Um dos meus sonhos é poder voltar no tempo como mero observador, invisível aos olhos dos personagens marcados pela história e assistir de camarote aos acontecimentos que moldaram nosso modo de vida e mesmo os que não. Gostaria de ver o modo de vida dos antigos e seus relacionamentos com a sociedade, entre si e com outros povos.
Enquanto isso não é possível - se é que um dia será -, o mais próximo que se chega disso é visitar essas cidades e abrir as asas da imaginação. O tempo efêmero, entretanto, não nos permitiu ver tudo que queríamos, nem conhecer outras civilizações.
Quiçá em uma próxima oportunidade o faremos; por ora, brincamos com a imaginação e com a lembrança de por um período de tempo, embora breve, termos estado o mais próximo possível de estudar com olhos de devaneio as construções e situação fictícias que são causa e consequência de muitos sonhos.

Até mais ver pacientes, cansados e enfadados leitores!