Uiá!!

"Nascidos, nós choramos por chegar a esse palco de tolos". Shakespeare, Rei Lear.

Nome:
Local: Londrina, Paraná, Brazil

20.5.11

Eu não sei

Em verdade, eu não sei porquê postar isso aqui, vez que não há ninguém que leia mais isso, mas, acho que eu preciso compartilhar e, como esse é o meio que possuo, eí-lo:


O céu é uma menina moça;
mergulha criança, matura o véu da inocência,
esconde a demência;
(des)prende em toda gente o medo;
e a lua, maestra, e os brilhos no azul-escuro-quase-preto, arautos;
e as melodias que criam, com o farfalhar da relva,
pr'os loucos (apaixonados), o tom que (en)canta, desapercebidamente.

O céu é uma moça menina louca;
descolore a tinta, pinta o breu,
cobre, o manto negro cintilante, os defeitos; as qualidades
outrora percebíveis, cedem à tentação do desconhecido,
ao gosto do que, enquanto ignoto, agasalha a vontade;
volúpia ardente do concupiscente desejo de que, a noite, posto moça,
traga o afago que acalma; a lisonja que mora e morre por dentro; que goza
e adormece qual imberbe, com a face no seio sujeito alheio.

O céu é uma louca moçoila ardente, quase deprimente;
percebe e cede à quimera; cria e mata a ilusão, a utopia;
porquanto clama o beijo, revida com o escarro, com o gosto acre do não;
daquilo que parece ser palatável e não é, do que figura perto e é longe;
do que parece amigo e é contendor, do que parece anjo e é verdugo;
enquanto peleja, se aplaina na vasta solidão ébria de seus filhos e amantes;
e da mesma forma tresloucada, reclama pra si os párias, os esquecidos;
àqueles dos quais nada se espera, na saia dá abrigo, e no conforto acha o gosto;
e, enquanto noite, aguarda e procura o aquele que quer, seja belo,
seja feio, seja a imagem exata e disforme do desejo;
quando o acha, cala e nada mais, na precipitação do porvir.

O céu é uma criança menina sorridente, quase inconseqüente;
tão logo o almíscar posterior ao ocaso da lua, defronte lhe mostra o brilho, o escuro cede;
ao lume faz reverência e reverencia o enredo redobrado, alvissareiro, do canto mudo da infâmia,
posto que, enquanto nostálgica e onírica, a quimera tem mais de aleive e perfídia que de corcéis brancos e princesas (príncipes) loiras (loiros); tem mais de golfada, de borbotão borrado, que de beijo apaixonado;
e, na convalescência de seus boêmios, qual graça de infante, ri da aurora;
tal qual neném, grassa, do fruto nascente ao pútrido fechar de olhos, até o suspiro final do prólogo, que anuncia o futuro esquecido etilicamente e o pretérito lembrado de forma incoerente, ou o futuro no lugar do pretérito e vice-versa;
que transmuta em calvário a noite, vez que a pintura que pende é quadro em branco, com moldura e sem tinta;
é observadora das idiossincrasias e vicissitudes aqui estampadas;
a figura no espelho, enquanto feliz e inebriada pelo que (ou não) aconteceu, tem, no âmago, a marca indelével do escárnio próprio, sorvendo, aos mínimos goles, a incúria do acontecido;
e, enquanto personagem de si mesmo, dá vida ao de trás da máscara, que, entrementes o primeiro parágrafo não se repete, é quem dá as rédeas;
nessa ciranda perene é que se perde o belo som e tom de ser humano para se ser “jovem”; como se o céu, menina moça louca ardente deprimente, só desse colo a quem, sendo este, esquece aquele; a quem se junta à turba e, misturando-se ao todo, perde aquilo que é.
perde-se, aí, a possibilidade de olhar para cima e se ver que o céu é uma menina moça, jocosa e singela; é uma moça menina louca, brilhante e bela; é uma louca moçoila ardente, quase deprimente, voluptuosa e chorona; é, por fim, uma criança menina sorridente, quase inconseqüente, risonha e impávida.
perde-se, aí, a beleza velada da vida, aquela que caminha nas entrelinhas e é mil vezes mais gentil que a carícia efêmera de amores frívolos esquecidos no vindouro; ao revés, aquela é sempiterna, pois pertence à quem a descobre e a carrega; a quem abre os olhos para além mar desse oceano de mesmices.

Se alguém ler, tá aí; se não, pelo menos público (em teoria), está.

6.1.09

Síntese em casa.

Ano novo, vida nova! Ou será tudo "mais do mesmo"? A questão dos marcos - aniversário, ano novo, anos 70, década de 20, séc. XVIII, etc. - é essencial para o ser humano. Denota a passagem do tempo e, além disso, traz a possibilidade de um "recomeço" a partir do antigo; ou, quicá, dependendo da situação, um começo inteiramente novo, sem bases nas quais se apoiar - incrível pensar que há a possibilidade de se criarem até mesmo os pilares. Parece que elas faziam mais sentido em épocas outras nas quais era importantíssimo comemorar a passagem do tempo e a possibilidade de se manter vivo por mais um ano ou mais um período que fosse.
Discutindo recentemente, embora no ano passado (piada ruim, infame e desleixada), com um grande, embora distante, amigo meu acabamos entrando no campo da arte: poesia, literatura e pintura, mais especificamente. E, conversando sobre alguns poetas brasileiros e estrangeiros disse-se em determinado ponto que é incrível o poder de síntese e concisão, sem perder em nada de conteúdo, que esses ourives possuem.
Um soneto - bem feito, obviamente -, ou um haikai; ou qualquer outra forma de expressão escrita/falada (uma música, porquê não?, de um Chico Buarque, de um Toquinho, de um Vínicius, Cartola, João Gilberto, e tantos outros grandes) possuem ao mesmo tempo uma matéria profunda e uma forma simples e singela de se manifestarem e existirem.
Ainda hei de escrever um poema que me faça ter orgulho de mim mesmo; ainda hei de criar algo que em sua intrincada temática desabroche em versos simples, limpes e tenros. Penso que minha dificuldade maior em fazer esse tipo de prazer seja a necessidade de constantemente me explicar - e, sabe, pensando agora, pode ser que essa vontade constante seja minha maior limitadora, posto que a arte deixa espaços para a interpretação daquelas a quem toca; enquanto que a constante explicação não, ela admite tão somente a análise daquele que lhe deu gênese -, contudo, tenho mudado esse tipo de comportamento e deixado os outros pensarem ou entenderem o que quiserem. 
Cada vez me agrada mais a idéia de escrever, mesmo que para mim mesmo, pois as idéias claras ficam (clarificam?) e é mais fácil se aperceber de coisas que de outra forma não seria possível. Por exemplo: escrevendo agora sobre a minha impossibilidade de não me explicar, acabei vislumbrando a possibilidade de que a constante explanação própria é uma maneira de me encaixar em um grupo e não permitir que idéias errôneas criem óbices a isso; o que, por sua vez, tem raízes mais antigas, talvez em algum tipo de escárnio sofrido quando ainda imberbe.
Tergiversando. Em verdade, a algum tempo eu venho dizendo que sinto inveja - do tipo saudável - dos grandes literatos e poetas; quero uma parte desse mundo de sonhos e fantasias; quero escrever livros e poesia; e, talvez agora, quando eu começo a me entender melhor do que nunca, seja a hora para fazer isso. 
O bacana é pensar que a arte é livre; deve ter a forma que melhor se encaixa no molde do seu ser e do "ser-idéia-pensamento" que você quer externar; nada de tercetos, redondilhas e métrica (Manuel Bandeira expressa bem essa idéia em "Poética", eis aqui um link para quem quiser lê-la: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/poetica.htm); nada de colocar o miojo na panela, aguardar três minutos e pronto, eis um poema. 
A forma é instrumento de propagação da idéia, não a própria manifestação em si; não se devem ser confundidas e nem misturadas; justamente por isso ela é livre - o que não significa que tudo seja bom; há o bom e o ruim que assim o são pela consciência, cabeça e olhos de quem vê.
Pensar na liberdade de sua manifestação importa dizer que mesmo algo não posto em letras ou em tela ou em música pode ser uma forma de arte. Qualquer coisa, dependendo de como a situação se crie é passível de assim ser classificada; dependerá de quão onírico, sublime e bacana seja o momento.  Uma presença feminina ajuda; a "eterna dançarina do efêmero" portadora de uma "incalculável perfeição", tem cadeira cativa e serve como catalisador desses momentos, com cheiros, toques, pele e palavras ("Receita de Mulher; leiam: http://cseabra.utopia.com.br/poesia/poesias/0712.html).
E nesse sempre-fazer que é a vida, o que importa é abrir a mente e perceber as sutilezas que nos rodeiam, porque nessa infinita ciranda, até um deitar na praia vendo as estrelas pode ser um quadro que fica exposto na parede da memória. E tenho dito.

Um mais ver bem abertado, beijosmeliga pra vocês; ó arautos do meu júbilo.

16.9.08

Valide: Infinita

Ultimamente tenho entrado em muitos blogs e, consequentemente, lido tudo aquilo que as pessoas que os escrevem acham digno de ser postado. Daí advêm duas conclusões: há uma gama muito grande de assuntos que aos quais os membros do mundo anárquico-virtual alcunham como "interessantes"; e é rogizijante poder ver que há muita qualidade espalhada pela internet.
Há vozes que bradam que a abertura de uma ferramenta que possibilita a todos a elucubração de suas idéias e devaneios tende a nivelar por baixo o nível intelectual do meio e, como corolário, deixar muita gente boa sem o devido reconhecimento e sem o recolhimento dos louros pela sua brilhante atuação como "escritor de blog".
Não há nada mais democrático e, convenhamos, bacana mesmo!, do que ver, ler, "ouvir" e entender os outros; estar atento ao que dizem, como e porquê dizem; abrir as janelas da mente para idéias antagônicas às suas e, quicá, refletir e mudar de idéia.
Tenho notado, com uma frequência maior do que desejaria, de que quando se trava uma celeuma intelectual ou uma altercação qualquer não existe propriamente uma reflexão, uma discussão; a retórica e a dialética; a aplicação da lógica, da filosofia e da argumentação para convencer o outro inexistem. O que ocorre é uma afirmação de teorias contrárias por partes em lados opostos, sem o devido e necessário pensar com os argumentos que o outro lhe traz; e, nessa mesma esteira e como consequência dessa primeira premissa, aqueles que acreditam em um outro ideal se juntam e em coro e em uníssono passam a clamar a superioridade da sua teoria sobre a dos seus inimigos intelectuais.
Existem casos nos quais se afirma, com uma certa audácia, petulância e prepotência, que se se pensasse verdadeiramente a única conclusão possível seria aquela defendida pelos arautos do ideal "x" ou "y"; e não se percebe o sofisma sobre o qual se apóia essa afirmação. Ora, a premissa aqui é a de que se deve pensar e que o pensar crítico terá como conclusão a teoria pela qual se batalha. Contudo, a lógica que serve de suporte para tanto é falha; coloca-se a conclusão antes da premissa e se subsume a premissa a esta.
Esse tipo de raciocínio caminha no sentido da estagnação intelectual e de uma sociedade com moldes conservadores ao extremo; porque se admitindo isso como verdade, sempre qualquer pensar deverá ser concluido no sentido da idéia dominante, entendida como tal por aqueles que pensam. Como bem se percebe não há aqui espaço para o raciocínio em contrário, posto que todos que pensam devem concluir assim, e eis que exsurge desse pensamento uma cabal paralisação, primeiramente do pensar per si, e em seguida da vontade de pensar. É possível se enxergar isso em ótimos romances de Aldous Huxley e George Orwell.
E eis que, tergiversando, pode-se dizer que, cara, a internet e a maneira pela qual ela possibilitou a todos indistintamente a possibilidade de manifestar o que lhe disturba e os alegra e mais infinitas possibilidades dentro de uma gama infinta de assuntos é sobremaneira salutar.
Por mais que por vezes topemos com assuntos desagradáveis ou piadas que podemos considerar impróprias, é preferível centenas de milhares de vezes mais esse cenário do que a impossibilidade de pensar e se manifestar; mil vezes alguns ocasionais sítios oprobriosos que uma mordaça eterna que cala a mente.

P.S. O título se refere ao fato de eu pensar que havia um período no qual o blogger mantinha o site sem postagens até apagar, pode ser que sim, pode ser que não; por enquanto não.
Ahh sim, e mais ver até leitores lidos.

10.12.07

O pato, a inveja e tudo mais

Eis que após um longo inverno brilha novamente (ou escurece) a estrela anã que regularmente (ou não) escreve coisas e mais coisas aqui nestes lados anárquicos e livres da era digital (internet).
Em outros tempos, épocas passadas, brotou em mim a intenção de redigir uma pequena resenha sobre os patos. Algumas semanas atrás, conversando com um amigo meu, ele me falou para escrever sobre os patos, a inveja e tudo mais; "tudo mais" referindo-se à arrogância.
Adimplindo ao requerimento à mim feito por esse caro amigo, discursarei, brevemente sobre o pato e, talvez, pormenorizadamente sobre os outros dois; ou quem sabe o oposto seja perpetrado, não tenho como dizer agora, posto que o texto não foi pré-produzido e, portanto, não há forma delimitada para ele e, dessarte, seus contornos serão definidos conforme o escrevo.
Pois bem, o pato. Já povoou nosso imaginário infantil inúmeras vezes através dos desenhos que nos hipnotizavam nas tardes quentes e alegres da nossa puerícia, através do Pato Donald e do Patolino, embora, em verdade talvez o Pato Donald seja na verdade um Marreco, espécie diferente do pato que emite outros tipos de som e tem características físicas diferentes; entretanto, para não manchar a imagem captada pelo obturador ocular e gravada na memória manteremos a classificação do Donald como Pato.
Esse ser aquático pode ser classificado como polivalente. Ele anda, nada e voa e não faz nenhuma das três coisas bem. Ora, consideremos que o pato não tem o encefálo desenvolvido, não podendo, portanto, entender o meio que o rodeia e, muito menos, si próprio. Ou seja, ao contrário de nós, humanos seres, o Donald não tem consciência de si mesmo; ele é um ser ontológico (é o que é). Isso posto, podemos dizer que ele não faz essas três coisas (andar, nadar e voar) porquê um dia sentiu vontade e resolveu testar os limites da sua existência; ele o faz porquê assim foi programado através de um processo evolutivo (ou, para não enfurecer os adeptos das teorias criacionistas e do desenho inteligente, foi feito assim por uma força superior) e assim melhor se adaptou ao meio que o rodeia; entretanto, como regra no mundo animal, quanto mais especializado em alguma atividade for um ser, maiores chances ele terá de triunfar na luta pela sobrevivência (tenho assistido muito National Geographic e Discovery...).
Vide os leões, gaviões e etc., peritos que são nas artes de andar, correr e voar conseguem de maneira majestoso realizar seus misteres; por isso, dividindo como o faz, o pato é um ser engraçado, bonitinho e desajeitado nos seus afazeres animalescos não tendo condições de competir com os seres doutores nas três artes que ele pretende fazer.
Não quero dizer, entretanto, que a diversidade de funções e afazeres pode comprometer a vida do pato. Não há como se pensar nisso porque durante um longo processo evolutivo (ou criativo...) ele tomou essa forma, pois foi a melhor adaptada a sobreviver no meio no quel ele se inseria e está contido até hoje.
Percebam, portanto, que em termos sociais, nós, humanos que somos, somos patolinos da vida real. Ou "donalds" às avessas.
Durante muito tempo, no decorrer da história documentada e estudada, houve homens que possuiam uma gama absurda de conhecimento; que enveredavam pelos caminhos da matemática, filosofia, história, biologia, direito, medicina, contabilidade, literatua, física, quimíca, etc., e não deixavam a desejar em nenhuma delas, aí vocês me perguntam: hein? como assim? isso é (foi) possível?
Ora pois, mas é claro ó pá! Inúmeros nomes cultuados e venerados pelas ciências foram, em outras épocas, grandes literatos ou grandes filósofos ou tudo numa coisa só. Da Vinci, Newton, Platão, Aristóteles, Heráclito, Galileu, Copérnico e por aí vaí; há uma longa lista de celebridades póstumas que navegaram e desbravaram vastas áreas do conhecimento, eram como "patos sociais", porém, ao contrário, conseguiam realizar bem suas tarefas.
Porém, como nem tudo é flores nas terras homínidas, em determinado ponto da evolução social, requereu-se dos homo sapiens que a especialização deveria ser a fonte de todo conhecimento buscado; ou pelo menos uma especialização relativa onde se permite que nós, parentes dos macacos, possamos nos singularizar em duas ou três materias. Eis porquê hoje há tantos mestrados, doutorados, pós-doutorados e tanta propaganda sendo bombardeada nas nossas jovens mentes para que nos distingamos dos demais sendo sempre, cada vez mais, doutores nisto e naquilo, deixando de lado outras áreas importantes do conhecimento.
Não que isso seja ruim; em uma sociedade complexa como a nossa o correto, penso, seja realmente essa partição de conhecimento, com diversas e intricadas áreas com seus especialistas e doutores.
Ademais, é cada vez mais díficil criar-se uma teoria nova para explicar algo já fastidiosamente lecionado e destrinchado; se pararmos para ver o lugar que nossas indagações nos levam, eles - os lochi -, já foram anteriormente explorados com muita propriedade e argúcia, tornando, portanto, complicada a nossa situação atual como criadores de pensamentos; somos mais como analistas e ensaístas, buscando sempre trazer à baila uma explicação nova e fascinante para um fenomêno já explicado de maneira fascinante; percebam o embaraço que se põe à nossa frente.
Conclui-se, portanto, que os patos não tem um lugar especial na nossa sociedade, ou em parte dela, porém, assim como aqueles da natureza, a evolução social resguardou um lugar para os "poliglotas do conhecimento", mesmo que esse sítio não seja doce e suave, esta lá, atrás das paredes de concreto, dos muros da ignorância e dos arbustos da especialização.
Eis que partiríamos agora para a outra parte dessa divagação, contudo o texto discorrido já resta demasiado longo e, portanto, me cumpre dar-lhe cabo sem prolongá-lo.
A inveja e a arrogância nos transformam em patos mal formados e mal preparados; se precisamos de outrem para exercitar nosso poder de maneira vexatória ou de alguém para servir de espelho para atingirmos nossos objetivos de forma ignóbil, quiçá não merecemos os privilégios dos quais somos portadores e defensores.
Ao exercitarmos essas duas formas de conduta (inveja e arrogância) nos transformamos em seres humanos, tal quais patos, mas humanos. E é só isso que tenho a dizer.

Mais, até ver; leitores invejosos.

18.11.07

Prolegômeno

Já se passou quase um mês desde minha última postagem e, como não houve resposta pela parte que outrora havia me alcunhado de "otário" e "fiasco" e, ademais, havia me indagado acerca de quem eu pensava ser, penso ter sido ele um visitante esporádico ou alguém que se acovardou e não quis dar a cara à tapa; ou, quem sabe em última análise, ele não soube como redargüir meus argumentos e quedou-se só na alcova.
Assim sendo, segunda ou terça feira da semana que se aproxima, postarei um novel texto.

Até mais ver, leitores.

27.10.07

Uma resposta tardia

Tenho tentado postar algo aqui que ache seja de interesse dos poucos que há algum tempo liam essa frágeis linhas perfumadas com erros de retórica e usos em excesso de palavras pouco usuais; bem provavelmente, pela falta de tópicos, aqueles poucos que observavam esses traços já não mais o farão. Portanto, é possível que eu escreva para mim mesmo (o que não é de todo ruim, pois me dá a possibilidade de analisar o pretérito e descobrir o que errei e onde posso mudar).
Pois bem; hoje, devido à falta de sono que sobeja, resolvi sentar e escrever qualquer coisa que fosse.
De início eu iria escrever sobre o pato. Porque o pato é um animal deveras interessante. Ele voa, nada e anda e faz todas as três coisas mal. É polivalente, mas, tadinho, fraquinho que só ele.
Mas daí eu lembrei de uma mensagem que me foi deixada quando da escrita de meu último texto. Alguém que não quis se identificar disse que eu sou "um baita de um otário", me perguntou quem eu acho que sou; e me disse que eu sou "um fiasco". Pois bem; me achei no direito e no dever de retorquir suas palavras e manifestar por aqui minha resposta.
Em resposta à primeira anotação do referido colega eu posso dizer que eu talvez realmente seja um otário; só que para eu me enquadrar em determinada definição eu preciso, a priori, saber quais elementos que configuram, formam e emolduram alguém dentro desse comportamento. Pois bem, supondo que você tirou essa afirmação somente da leitura do que aqui escrevo, eu presumo que sua conclusão foi corolário do que aqui foi lido, certo (como é bom e regozijante dizer o óbvio ¬¬)? Posto que eu não sei quem é o Sr. Anônimo e ele, ou não me conhece ou não se achou confortável para dizer quem era, eu vou usar a premissa acima para tentar descobrir o que torna alguém um otário.
O que eu faço aqui nesse blog? Escrevo; ou digito, mas enfim, externo um pensamento e o transformo em palavras. Será que escrever torna alguém um otário? Poxa, se assim for o mundo é deles - ou nosso. E em terra de olho quem tem rei é cego. Mas acho que não foi por isso que ele dessa forma me chamou.
A outra coisa que eu faço aqui é usar palavras diferentes; não muito utilizadas. Será que isso torna alguém um otário? E se assim for, por que o é? Se essa regra for um dogma, todos que doravante utilizarem uma palavra diferente serão taxados de otários, mas reitero, por quê? Faço isso por gosto, acho que se enriquece um texto ao lhe emprestar conhecimento pouco habitual. Do mesmo jeito que há seres que gostam de ler poemas de determinadas escolas literárias e de outras não, me apraz escrever dessa forma e forçar o leito a conhecer um pouco mais da sua língua, tão rica em palavras e expressões, soçobrada pelo seu uso errôneo na vida real e no meio virtual, onde se a entibia a cada expressão que a injuria e subverte a norma "culta" e corrente de se comunicar. Não há mais nada que eu faça aqui nesse espaço, logo uma dessas duas coisas me tornou um. Ou talvez, esquecendo a premissa acima alinhavada, essa pessoa me conheça e não goste de mim.
Quanta a segunda parte do comentário, o Sr. Anônimo, me indaga: "quem vc pensa que é?". Olha, se eu não estiver muito enganado eu sou quem eu penso que sou, mas se eu pensar que eu sou alguém que penso que sou e na verdade eu for alguém outrem do que eu penso que sou, o que eu penso não é o que eu realmente sou e daí minha cabeça viraria um caos. Porque, veja bem, eu sei quem eu sou fisicamente, certo? Me olho no espelho e vejo refletidos meus traços, coisas que me caracterizam fisicamente, portanto quanto a esse quesito da minha personalidade, não há discussão a ser feita. Agora, quanto à minha consciência, alma, minha parte metafísica, não há um reflexo que me mostre aquilo que realmente sou, portanto há altercação nesse ponto.
Mas vamos lá. O que a consciência contém? E o que a contém? Não vou aqui discutir o que é a consciência filosoficamente falando. Entendamos, daqui em diante, consciência como características que distinguem um ser humano do outro em um nível subjetivo/metafísico. Isso significa dizer: valores, decisões face à situações limite, controle de emoções, etc., todas essas coisinhas bonitinhas que fazem parte da nossa parte imaterial.
Logo, para eu saber quem eu sou eu necessito ter cabal conhecimento dos valores e princípios que me guarnecem. Serei um homem honrado? Serei um bom ouvinte? Serei falador por demais da conta? Serei íntegro? Serei divertido? E por aí vai. Mas exsurge uma outra pergunta: qual o espelho que refletirá à mim aquilo que realmente sou? Uma situação na qual seu valor ou sua característica seja posta à prova. Logo, se você se considera íntegro, somente em uma situação limite na qual sua integridade seja testada você terá o reflexo exato daquilo que esperava ver. Traçando um paralelo com a parte material do ser é o mesmo que dizer o seguinte: se eu não tiver um espelho tudo que posso fazer é me imaginar sendo loiro ou moreno, ter nariz grande ou pequeno e por aí vai; portanto, só o reflexo trará a certeza da qualidade ou defeito que se espera ter.
Concluindo essa parte: eu posso crer ser algo; ou ser alguém (posto que o alguém é a junção da parte material com a parte imaterial), mas só a situação prática trará a certeza do que realmente sou e, destarte, eu tenho a crença de ser alguém e não a certeza; logo nem eu nem você somos - sabemos ser - quem pensamos ser, há uma incerteza prática que nos impede de dar vida aos nosso completo ser; eu creio ser alguém, mas certeza disso só terei eventualmente. Como penso se dar com você Sr. Anônimo, muitas partes do seu ser o Sr. já conhece; outras não e, portanto, o Sr. também não é quem pensa ser.
Só como final dessa parte - embora o final, conclusão, esteja acima -; o Sr. talvez tenho dito isso pensando que eu gostaria de me passar por alguém ou extrapolar os limites do meu ser. Ora, tomarei isso como um elogio, porquanto isso me torna ambicioso e com vontade de melhorar, me aperfeiçoar sempre, portanto, muito obrigado.
Terceira parte. Serei eu um fiasco? Mais uma vez preciso saber o que configura um fiasco? Falta de público? É, se for esse o quesito, sou mesmo, poucos são os que apreciam a leitura desse espaço. Será que é porque eu sou ruim nesse mister? Ora, esse é um conceito bem subjetivo, portanto, muito que bem, se para o Sr. Anônimo eu sou fraco e escrevo mal esse é um direito dele. Só devo lembrá-lo que embora a Constituição Federal em seu art. 5º incisos IV e IX dita, respectivamente, que é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato; e que é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença. E, embora o Sr. Anônimo, possa argumentar que se utiliza de um pseudônimo, ao qual o Código Civil de 2002 em seu art. 19 garante a proteção dada ao nome, desde que criado para atividades lícitas, não creio que essa tese seria aceita.

Sr. Anônimo, por favor, se vier a ler essa réplica tardia, queira fazer o obséquio de me conceder a tréplica, explicando os "porquês" de ter dito aquilo de mim; e, também, se achar de bom grado, identifique-se, não há porque manifestar o pensamento através do anonimato. Não há ninguém aqui que irá tratá-lo diferente ou mal só porque disse quem é.
Aos demais, me perdoem esse texto extenso e com um mote tão particular, mas me achei no direito de fazê-lo.

Até mais ver, doidos leitores.

12.4.07

Mulheres, perdão

Primeiramente preciso me curvar à presença sempre constante de um grande amigo meu. Cresceu comigo, provavelmente me viu fazer coisas que nem eu mesmo faria (Hã? Como assim Alexandre?) e hodiernamente é figura onipresente nos comentários das elucubrações deste incauto imbecil que lhes fala.

Mulheres, perdão; d'alma brotam minhas mais sinceras e densas desculpas. Peço-lhes perdão pela postura que nós homens tomamos frente à sua ídilica, soberba, aprazível, cativante ("tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas", Antoine de Saint-Exupéry), apaixonante e cheirosa figura; perdão pela perfídia, desonestidade e achincalhe com o qual normalmente as tratamos em relacionamentos amorosos; perdão pelas cantadas abjetas e pestilentas que muitos de nós utilizam com o mister de conquistá-las; perdão pela falta de higiene, pelos pêlos em excesso, pela contumácia e incúria que normalmente exercemos; perdão por sermos, muitas vezes, a exata oposição do desejado.
Perdão por nossa ingenuidade; perdão por nossas brincadeiras infantis; perdão pelos nossos flatos e arrotos; perdão pela constante infidelidade; perdão pela aparência por vezes grotesca e mal cuidada; perdão pelo medo de amar; perdão pelo medo de expressar esse amor; perdão pela falta de tato (tanto psíquico quanto físico); perdão pelo receio de mostrar afeto em público; perdão por não compreendermos seus medos e neuras; perdão por não entendermos a dificuldade e complexidade do ser mulher.
Enfim e em soma, perdão.

Mas, será que eu deveria pedir perdão? Será que é justo pedir perdão por obrar na qualidade de homem? Será que, sendo seres iguais como somos, eu devo pedir perdão pelos nossos comportamentos?

A moralidade dos fracos ou dos escravos predomina sobre a vontade dos fortes; não exatemente com essas palavras, Nietzsche, em sua obra A Genealogia da Moral, uma polêmica, discorreu sobre a inversão de valores que ocorrera em determinado período da humanidade, salvo engano na época que o cristianismo inicou a tocar o coração e mente das pessoas. Ora, antes de mais nada, eu não defendo que as mulheres sejam seres fracos, muito pelo contrário, tenho certeza que são tão, se não, mais fortes que os homens; destarte, estamos todos em pé de igualdade no que toca o viver.
Defende o referido autor que em um momento histórico a casta de escravos, ou pessoas fracas á época, organizou-se e começou a inverter os valores postos como sendo justos e desejáveis, criando assim uma nova moralidade, onde o comportamento dos fortes de outrora passava a ser entendível como o errado: o mal. Discorre que a moral nobre, que fora suprimida pelo descalabro da moral escrava é sempre uma afirmação, um sim a si mesmo(a), uma ação; enquanto que a moral dos fracos é sempre uma negação e responde sempre a um estímulo exterior, não sendo portanto ação, e sim reação.

Ora, sendo que nós homens somos equiparados às mulheres, devemos pedir desculpas por nos comportarmos naturalmente? Devemos nos submeter à moralidade escrava que dita os comportamentos que necessitamos ter para sermos aceitos no coração do gênero oposto? Meus perdões apenas versados são necessários e, porquê não, válidos? Sim, possivelmente sim e sim também.

Malgrado a beleza e profundidade da teoria nietzscheziana acima posta, algo mais íntimo e profundo me obriga a pedir perdão. Quem sabe seja a moralidade de escravo há muito ensinada e, portanto, enraizada em mim; quem sabe por, inconscientemente achar que as mulheres precisam ser protegidas... não, com certeza não.
A verdade é que brota de mim uma vontade de fazer estas indulgências, provavelmente por respeito às damas, tão belas, tenras e meigas, mas a realidade é que não sei ao certo qual a razão que me atribui esse munus.
Dessa vez, ao revés do que acontece na maioria dos casos, o homem - eu -, me fiz incompreensível.
Desde já peço vênia aos meus colegas do gênero masculino por ter asseverado, nestes versos deletérios, argumentos assaz oprobriosos.

Até mais ver perdoados e perdoantes leitores!

5.4.07

Uma viagem pouca

Embora o título pareça equivocado aos incautos olhos dos formalistas; dos arautos da correta sintaxe; leiam o texto e, após, tirem suas conclusões (tenham sempre em mente que a escrita poético/literária permite ao autor ser mais livre na concepção dos versos prolatados).

Começo declamando, uma vez mais, minhas mais (in)sinceras desculpas aos legentes que detêm o globo ocular e perdem minutos preciosos da nossa curta jornada terrena lendo minhas divagações.
Tergiversando. No começo de fevereiro pude, graças a ajuda de meus pais, realizar uma viagem em direção ao velho continente para aprimorar uma das línguas que entendo ser das mais belas existentes: o italiano. Fiz um curso de italiano na antiga cidade à qual todos os caminhos levavam em épocas passadas. Entretanto, o pacote da viagem incluia uma estada curta em uma das cidades mais visitadas e lindas do mundo: Paris.
Permaneci na cidade luz por três efêmeros dias caminhando e conhecendo tudo que ela me pôde proporcionar. Visitei lugares lindíssimos que, malgrado possam ser descritos através da fala, o serão sucintamente por mim, posto que pretendo fazer deste um pequeno conto sobre uma impressão geral que colhi da viagem.
Nomeio, entretanto, alguns lugares: visitei a Igreja do Sagrado Coração, Notre Dame, Igreja de Saint Chapelle, Torre Eiffel, Museu D'Orsay, Museu do Louvre, Ponte Alexandre III, Hotel dos Inválidos, Centro de Arte Moderna George Pompidou, Pantheon, Jardins de Luxembugo, Arco do Triunfo, Praça da Bastilha, Praça da Concórdia, Champ de Mars, Champs Elysée e Moulin Rouge.
Sempre andávamos de metro e em seguida a pé, utilizando nossos membros inferiores com frequência adquirimos força comparável à de Hércules ou Aquiles ou mesmo à do grande "Cavaleiro da Triste Figura". Quiçá esta última alusão seja a que melhor representa nosso estado (meta)físico de todos os dias.
Perpassados esses ídilicos dias em Paris, nos encaminhamos à Roma onde restaríamos por duas semanas.
Lá chegando pudemos observar as ruínas antigas que circundam ainda hoje a cidade; os muros; o Coliseu e a real sensação de adentrarmos em um Museu a céu aberto (me perdoem o chavão, mas é a mais pura realidade).
Em Roma ficamos em uma casa de família regida pela batuta de uma dona de casa que em muito se assemelhava às mães que aqui temos e deixamos; liberal, conversadora e divertida.
Lá somente andávamos, pegávamos um ou dois metros e de resto utilizávamos nossas queridas pernas para nos locomovermos de um local ao outro.
Conhecemos muitas coisas: Colosseo, Foro Romano, Campidoglio, Circo Massimo, Bocca della Verità, Embaixada de Malta (onde há uma fechadura da qual se vê uma campânula de herbáceos - folhas e flores -, e ao fundo se observa a cúpula da Basílica di San Pietro), Giardine delle Arancie, Phanteon, Piazza di Spagna, Piazza dei Popoli, Monumento á Vittorio Emmanuelle III, Basílica di San Pietro e a Piazza di San Pietro, Chiesa di Santa Maria Maggiore, Capela Sistina, Fontana di Trevi, Piazza Navona, vi a Pietà di Michelangelo, conheci o Museu do Vaticano, Castelo de Santo Angelo e o Stadio Olimpico, entre outros lugares visitados, como várias Igrejas menores.
Viajamos também para Veneza, Pisa e Firenze. Em Veneza pudemos comprovar o quão temática é a cidade (citando meu amigo Diego que trouxe à baila esse comentário), posto que lá não se vêem carros, não há trânsito e todas as lojas vendiam somente objetos referentes ao carnaval que estava acontecendo.
O diferente foi não podermos ver como funcionava a vida normal da cidade, pois toda ela estava girando em torno da folia que lá acontecia.
Em Veneza conhecemos: Ponte Rialto, Ponte dos Suspiros, inúmeras igrejas, a Piazza di San Marco, a Chiesa di San Marco, vimos as tão famosas gôndolas, um monte de gente fantasiada e passamos muito frio.
Depois nos dirigimos à Pisa onde só vimos a torre inclinada, quase caindo e, ato contínuo, fomos a Firenze.
Em Firenze vimos: Ponte Vecchio, Palazzo dei Vecchi, Giardini dei Boboli, Piazza Duomo, Campanile (onde subimos 414 degraus), Museo dell'academia (onde jaz o famoso Davi de Michelangelo, uma escultura simplesmente embasbacante) e mais uma porção de igrejas e coisas parecidas.

Por mais breve que se tenha tentado ser, se vê, facilmente, que relatar uma viagem dessas é difícil. São muitas coisas para contar, muitos fatos para relatar e muitas situações estranhas e divertidas para descrever. Por ora, tentei ser o mais objetivo possível, buscando somente construir sustentáculo para histórias vindouras.
Entretanto, como não poderia deixar de ser, é essencial que eu faça algum comentário desde já e, destarte, me acho no dever de lhes contar sobre o tráfego.

Imaginem a seguinte situação: ruas duplicadas onde sempre passam dois carros, inúmeros apartamentos com ou pouca ou nenhuma vaga na garagem e vários lugares para se parar o carro na rua.
Até aí nada de mais, não há muita violência lá, muito menos assaltos à mão armada, só se deve proteger seus pertences contra os famosos trombadinhas ou espertalhões de plantão que ao seu menor deslize os usurparão.
Agora que vem a situação bacana, divertida e pasmosa. Os cidadãos romanos, mais especificamente os motoristas, não contentes com as milhões de vagas que se amontoam aos lados das pistas, param seus automóveis na rua mesmo. Ou seja, param na pista, descem do carro, ligam o alarme e vão fazer suas coisas por horas e horas.
Todos fazem isso, todos, e não há muita reclamação pela parte dos outros motoristas.
Outrossim, devo dizer-lhes que achar um carro lá sem alguma espécie de arranhão ou batida é quase raro.
E isso me faz lembrar de outra coisa: as motos lá são estacionadas todas em filas, uma do ladinho da outra, muito próximas; os carros param também muito próximos das motos. Fiquei imaginando como seria hilariante se um desses carros encostasse em uma moto... me veio à testa, de supetão, a imagem de um dominó, daqueles que nós vemos em filmes ou desenhos empilhados em pé um na frente do outro, bonitinhos, paradinhos; até que alguém toca, sem (por) querer em um deles e se inicia a reação em cadeia.
Mais ou menos por aí.

Por fim, darei sucintas explicações sobre as cidades que conhecemos.
Paris: belíssima, a imagem de Europa que se tem na (in)consciência é representada por esta cidade. Ruas limpas, pessoas bonitas, educadas cultas (aparentemente). Sem contar o ar onírico que a agasalha.
Roma: considero-a minha preferida. Não é tão bonita quando Paris, nem tão bem organizada, mas essas coisas a transformam em uma cidade peculiar por si só. É embasbacante caminhar pelas ruas estreitas e curvilíneas que a constituem e em cada lugar se deparar com monumentos erguidos por um povo antiguíssimo. Sem contar que a imaginação voa solta olhando tudo que lá jaz; nossa mente tenta recriar os acontecimentos que se sucediam. Roma é surpresa atrás de surpresa atrás de lugares belíssimos para se ver.
Veneza: onírica e romântica ao extremo, muito miscigenada, uma vez que era rota de comércio entre Oriente e Ocidente. Se eu pudesse levar minha futura esposa em lua de mel, Veneza seria um dos lugares cogitados. Ao revés do que se diz, não é fedida. É fascinante observar e capturar com o obturar dos olhos o mar circundando a cidade e forjando essa imagem que se lhe dá.
Pisa: pequena, aparentemente aconchegante, com a Torre di Pisa, aquela inclinada, como ponto principal. Entretanto, a torre é bastante inclinada, fiquei pensando por alguns segundos, nos quais me senti um completo imbecil, que ela poderia cair.
Firenze: outra cidade muito bonita. Completamente dominada pelos Médicis, banqueiros riquíssimo de séculos passados que já elegeram, devido à sua influência outrora, dois membros de sua família para serem Papas. Há muito coisa bonita em Firenze, entretanto é uma cidade mais urbano/moderno. A região próxima à Ponte Vecchio e depois que se a cruza é a parta mais antiga.
Em todas essas cidades é muito interessante se notar como se imiscuiram na vida moderna os monumentos de antigamente e como eles lá permanecem, perenes, sendo observados e mantidos incólumes, mesmo com toda a tecnologia e novidade que os cerca.
Esse deve ser o motivo principal de tanto fascínio pelo velho continente; a possibilidade de, de um mundo moderno, se observar as construções do passado e ao mesmo tempo não se desvencilhar daquele.
Um dos meus sonhos é poder voltar no tempo como mero observador, invisível aos olhos dos personagens marcados pela história e assistir de camarote aos acontecimentos que moldaram nosso modo de vida e mesmo os que não. Gostaria de ver o modo de vida dos antigos e seus relacionamentos com a sociedade, entre si e com outros povos.
Enquanto isso não é possível - se é que um dia será -, o mais próximo que se chega disso é visitar essas cidades e abrir as asas da imaginação. O tempo efêmero, entretanto, não nos permitiu ver tudo que queríamos, nem conhecer outras civilizações.
Quiçá em uma próxima oportunidade o faremos; por ora, brincamos com a imaginação e com a lembrança de por um período de tempo, embora breve, termos estado o mais próximo possível de estudar com olhos de devaneio as construções e situação fictícias que são causa e consequência de muitos sonhos.

Até mais ver pacientes, cansados e enfadados leitores!

29.1.07

Nossa abjeta atualidade

Passados dias silentes no marasmo da alcova; transpostas noites ermas na sofregidão do luar; galgados os dias sorvidos com a lentidão do florescer; procurados os sentidos mais nobres, oníricos e ídilicos, ele senta resignado à própria dor e sorte de não ter porquê sofrer, chorar e se lamuriar.
As conversas com conhecidos e amigos tornam-se, por mais duradouras que sejam, efêmeras aos seus olhos; o trabalho, rotineiro e promissor de sempre, parece um moinho d'água: girando, lembra o andar, embora sempre parado.
A lembrança de dias mais turbados, abalados pelo constante medo da ditadura; pela ameaça da batalha comunismo x capitalismo; da 2ª Guerra Mundial; da 1ª Guerra Mundial; a vida díficil, sem eletricidade, sem água potável encontrada em cada esquina, sem comida comprada por pouco dinheiro, sem segurança, sem lazer, sem tempo, sem família, com amores rápidos e triviais, sem amor verdadeiro, sem tudo; os dias nos quais o terrorismo e a guerra contra um suposto "eixo do mal" começaram a se forjar e a vitória subseqüente do "eixo do bem"; a falta de petróleo facilmente debelada por outras fontes de energia criadas pelo próprio homem, sem ferir a mãe natureza.
As longas jornadas de trabalho extintas; a real consecução do estado do bem estar social, com horas longas para descanso, lazer, família, viagens e qualquer coisa mais que se pudesse fazer nesse período.
O casamento perfeito; uma mulher linda para chamar de sua; filhos saudáveis, com suas rebeldias infantis, não rodeados, contudo, pelos perigos da violência, das drogas e armas.
Amigos felizes, bonitos, casados, com seus próprios filhos; uma casa comprada e construída com todos os cuidados para abrigar a prole e a cônjuge; um belo carro na garagem e tudo mais que o homem do século XX-XXI sonhava nos seus mais utópicos e inconscientes devaneios de um futuro perfeito, enfim atingidos.
E, no entanto, ele não para de pensar que seus antepassados tinham, ao revés dele próprio, todo o direito e chance de sentirem-se macerados pelo peso do viver e eram alegres e felizes, apesar de todas as adversidades.
Sentado na beira da cama, vendo sua mulher suspirar em sonho; lembrando de seus filhos bonitos, saudáveis e felizes, do trabalho bem remunerado, das horas de descanso e do passado adverso; ele não entende como e porquê deseja com tanta volúpia poder experimentar a dor e a pressão dos anos de seus pais, avós, bisavós e tataravós.
Ele pensa e não consegue descobrir porquê o infortúnio lhe fascina tanto e lhe dá tamanha impressão de que seria mais feliz sob o jugo da desdita.
Sentado de soslaio ao pé da cama, subjugado pela tranquilidade do hodierno, ele se emurchece ainda mais com a visão de um futuro cada vez mais tranquilo, se é que isso é possível e adormece, pensando e bradando em pensamentos o quão melhor era a sociedade do passado, onde seus habitantes podiam legitimar sua dor e torpor e mesmo assim não o faziam.

Gabríel Gárcia certa vez disse que nas adversidades se forjam com mais força os melhores amores; talvez das desventuras brote também com mais propriedade o espírito humano. Ou talvez essa seja somente uma impressão dos nossos tempos que legitima qualquer atitude que nos leve ao limite. As drogas e os esportes radicais se amontoam para vender ao cliente a melhor sensação de fuga, êxtase, medo, e morte possível.
As adversidades das quais rebentam as justificativas procuradas incidem tão somente sobre estigmas da carne, clamando que esta cicatriz física ou social legitimaria as depressões e choros; e que hoje, ou em um tempo futuro melhor, devido à falta de labéu corporal e social, as nossas angústias d'alma são desarrazoadas.
Sofrer no espírito, na alma e na consciência, são comportamentos e condições inerentes à alcunha de humano ao ser. E não são inquirições pretéritas ou futuras sobre eventos corpóreos que encontrarão a resposta para abrandar descalabros metafísicos.
E de resto, me resigno ao silêncio, por temer que esta meditação se pareça em demasia com texto de auto-ajuda.

Até mais ver sôfregos e disparatados leitores!

19.1.07

Tempo de Poesia; Parte 2

VERSOS ÍNTIMOS

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem, que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

Augusto dos Anjos